Vegetarianismo: Chave para a Saúde e a Felicidade

Arnaldo Sisson Filho (Porto Alegre, janeiro de 1981)

Por tudo que é sagrado em nossas esperanças pela humanidade, eu conclamo àqueles que desejam o bem-estar da humanidade e amam a verdade a examinarem os ensinamentos do vegetarianismo sem preconceito.” (Shelley)

Sumário:

1- O Que É o Vegetarianismo?

2- Por Que Ser Vegetariano?

3- Quais os Conhecimentos Científicos Que Mostram Não Ser a Carne um Bom Alimento?

4- Qual É, Exatamente, o Aspecto Antieconômico do Consumo de Carne na Alimentação?

5- Afirmou-se Que a Alimentação Cárnea Implica em Crueldade e Sofrimento. O Que Quer Dizer Isso Precisamente?

6- Como Ser um Bom Vegetariano?

7- O Que É Necessário Saber, Essencialmente, Sobre a Ciência da Nutrição para Equilibrar Adequadamente a Alimentação?

8- Como os Vegetarianos Respondem à Questão dos Aminoácidos Essenciais?

9- O Que É, em Resumo, Importante Quanto às Proteínas?

10- Que Outros Pontos Importantes Poderiam Ser Também Considerados? Seria Possível Colocar em Alguns Tópicos Toda a Questão da Alimentação?

11- O Que Disseram Grandes Homens

12 – Bibliografia


1- O Que É o Vegetarianismo?

Vegetarianismo é o regime alimentar segundo o qual nada que importe em sacrifício de vidas animais deva servir à alimentação. Dessa forma os vegetarianos não comem carne e seus derivados, mas podem incluir em seu regime leite, lacticínios e ovos.

O regime vegetariano não é, pois, exclusivamente vegetal e o seu nome não se origina de alimentação vegetal e, sim, do Latim “vegetus” que significa: forte, vigoroso. O regime composto exclusivamente de alimentos vegetais é chamado vegetarismo, fitofagismo ou ainda veganismo.

2- Por Que Ser Vegetariano?

São três as principais razões em favor do vegetarianismo. Primeiro, o fato de que a carne não é um bom alimento para o ser humano. A alimentação carnívora implica em sérios riscos à saúde do homem. Segundo, o consumo de carne significa um enorme desperdício, sendo antieconômico. Terceiro, os terríveis sofrimentos impostos aos animais que são parte desse regime alimentar. A seguir explicaremos claramente cada um desses aspectos.

3- Quais os Conhecimentos Científicos Que Mostram Não Ser a Carne um Bom Alimento?

São os seguintes os inconvenientes da carne para a alimentação do homem:

1- Alimento antinatural: O homem não fabrica amoníaco para neutralizar os ácidos resultantes do metabolismo cárneo, como o fazem os carnívoros.

2- Alimento tóxico: A carne é um veneno lento, mas seguro. Ela possui toxinas resultantes da decomposição cadavérica e outras resultantes do metabolismo do animal, que ficam retidas e produzem mais toxinas pela desassimilação nos intestinos.

A seguir relacionamos alguns dos seus problemas:

a- Toxinas (venenos) pré-formadas, resultantes do metabolismo animal e que ficaram paralisadas com a morte do animal (dejetos vitais, matérias extrativas, purinas: adenina, creatinina e xantina, que se transformam em ácido úrico).

b- Toxinas resultantes da decomposição cadavérica, microbiana (ptomaínas, leucomaínas). A carne é um alimento cadavérico, é um cadáver em começo de decomposição. A carne do animal recentemente morto é dura. A decomposição cadavérica é que a torna macia, acompanhando-se da produção de toxinas e da multiplicação de micróbios.

c- Nucleínas, fonte de ácido úrico e de oxalatos.

d- Ácidos, matérias extrativas etc., que vão engurgitar o fígado e aumentar o trabalho renal e são consequentes à desassimilação da carne nos intestinos, acompanhada de fermentação intestinal. A. Gautier mostrou, por meio da fístula de Eck, que isso não se dá com a caseína do leite, com o glúten do pão e com a legumina dos legumes. Os ovos e o leite não têm os dejetos metabólicos, nem as toxinas cadavéricas da carne. A fístula de Eck é um artifício operatório (cuja realização desaprovamos), pelo qual se faz com que, no animal, o sangue intestinal caia diretamente na corrente circulatória em vez de atravessar primeiramente o fígado. Um cão assim tratado, alimentado de carne, cai em convulsões crônicas e tetânicas e entra em coma, podendo mesmo morrer. Alimentado com pão, leite e sopa de legumes, sobrevive. Donde se vê que o fígado protege o organismo contra a intoxicação cárnea, mas isto não deixa de representar uma sobrecarga de trabalho. Fato semelhante observa-se com os rins. Theoari mostrou que provocando-se lesões renais em cães, eles se curam ou conservam apenas lesões de esclerose se submetidos a regime vegetariano, mas morrem rapidamente, com forte albuminúria, se são alimentados com carne.

3- Alimento acidificante: Produz ácidos fosfórico, sulfúrico e úrico, causadores de acidificação humoral e de irritações esclerosantes. As proteínas em excesso são acidificantes e mucogênicas.

4- Alimento desmineralizante: Os ácidos produzidos pela carne produzem desmineralização ao serem neutralizados no organismo.

5- Alimento excitante: A carne é um excitante muito forte, equiparável ao álcool, devido as substâncias tóxicas e extrativas dela provenientes. A sensação de vigor é esgotante, o que faz reclamar mais excitantes (álcool, açúcar, mais carne etc.). Há aparência de vigor, devido à excitação, e cria um apetite enganador, porque faz repelir os alimentos suaves. Daí a depressão inicial naqueles que abandonam o uso da carne. Devido ao seu poder excitante, que faz gastar as reservas vitais, e ao seu poder tóxico, a carne é um dos fatores da abreviação da vida.

6- Alimento que contribui para o aparecimento de diversas doenças e degenerações humanas: Apendicite, arteriosclerose, artritismo, eczema, enterite, gastrite, nefrite, reumatismos, úlcera gástrica e vegetações adenóides. Transmissor de doenças contagiosas e parasitarias: brucelose, salmoneloses, teníase (solitária), triquinose e tuberculose. No decurso de moléstias do fígado, dos rins, dos intestinos, da pele, de perturbações nervosas, não há melhor regime do que o vegetariano. Com efeito, devido à incompleta combustão das proteínas, à produção de ácido úrico, às fermentações intestinais que produzem toxinas prejudiciais e ácidos (acético, butírico, capróico, oxálico etc.) e tudo isso gerando acidificação, ácido úrico, toxinas microbianas e metabólicas, alcalóides etc., o que só podem agravar o mau estado de saúde.

7- Principal fonte de putrefações intestinais: A carne, mesmo cozida, traz toxinas microbianas em grande quantidade. Além disso, pela sua própria composição, a carne favorece a pululação microbiana nos intestinos e aumenta a flora putrefativa, em lugar da flora ácida normal. A média de germens de 65.000 por mm3 de fezes, no carnívoro, baixa para 2.000 por mm3 no vegetariano. Esses germens produzem putrefação, extinguem os germens saprófitas benfeitores, daí a frequência de apendicite, colite, enterite, entre os carnívoros. (Adaptado de “Doente: Ajuda teu Médico”, do Dr. Alberto Lyra.)

4- Qual É, Exatamente, o Aspecto Antieconômico do Consumo de Carne na Alimentação?

“Sob o ponto de vista sócio-econômico, os cereais constituem a escolha lógica como alimento principal. Uma vaca necessita de 10 a 15 acres de pasto e produz 120 a 180 kg de carne. O consumidor médio de carne come 115 kg por ano. Portanto, um acre de terra destinado à produção de carne alimenta quando muito um décimo de pessoa por ano. Os cereais são bem mais generosos na sua produção. Por exemplo, 2.500 a 3.500 kg de arroz deve crescer em um acre de terra por ano. Por isso, um acre de terra destinado ao cultivo de arroz pode alimentar de 30 a 40 pessoas por ano. Isto representa de 100 a 150 vezes o número de pessoas que viveria melhor se comessem cereais como o alimento principal. “De um ponto de vista altruístico e humanitário, os cereais são obviamente a melhor escolha. A quantidade de terra para o pasto necessária para alimentar uma vaca daria, se transformada em plantio de cereais, para alimentar 300 pessoas por ano.” (Extraído de: “Liberte-se Através da Alimentação – Introdução à Cozinha Natural”, de Iona Teeguarden)

5- Afirmou-se Que a Alimentação Cárnea Implica em Crueldade e Sofrimento. O Que Quer Dizer Isso Precisamente?

1) “O homem incorre numa irresponsabilidade com relação ao sofrimento derivado do uso de alimentos em cuja composição entra a carne, e que é inevitável pelo próprio fato de se sustentarem assim da carne dos animais dotados de sensibilidade. Não são apenas os terrores do matadouro mas, ainda, os horrores preliminares do transporte em comboios e em navios, a privação de alimento, a sede, as longas experiências de terror que esses desgraçados seres tem de sofrer, para a satisfação do apetite do homem.

“Se disso quereis fazer uma ideia, assisti ao desembarque de um navio ou caminhão e vereis o medo e o sofrimento revelar-se na expressão dessas pobres criaturas que, afinal, são nossos irmãos, embora inferiores.

“Sustento que não tendes o direito de infligir esses sofrimentos, os quais são uma dívida contra a humanidade que diminui e retarda em massa o progresso humano, porque vós não podeis separar-vos assim do mundo, não podeis isolar-vos e prosseguir a vossa evolução espezinhando os outros seres. Aqueles que pisais retardam o vosso próprio adiantamento. O mal que causais é, por assim dizer, a lama que se agarra aos vossos pés quando vos quiserdes elevar, porque nós devemos elevar-nos juntos ou cairmos juntos, e o mal que fazemos a seres sensíveis retarda a nossa evolução humana, e torna mais lentos os progressos da humanidade para o ideal que ela procura realizar.” (Extraído de: “O Vegetarianismo à Luz da Teosofia”, da Dra. Annie Besant.)

2) “Aqui, deparamo-nos com uma estreita relação entre a sinceridade e honestidade de propósito e a saúde. Meu ponto de vista é que é impossível ter tais qualidades e estar associados com os horrores e barbaridades dos matadouros e dos caminhos que conduzem a eles.

“Resulta difícil compreender que alguém possa associar uma conduta altamente espiritual mantendo seu corpo com os alimentos mais grosseiros, cada átomo dos quais são puro instinto, não só com as naturais vibrações do reino animal, senão também com outras não naturais, devido ao sofrimento físico e emocional, inseparável do alimento cárneo.” (Extraído de: “A Saúde e a Vida Espiritual”, de Geoffrey Hodson.)

3) “É necessário que percebamos que os corpos astrais dos animais e os seus sistemas nervosos são bastante bem organizados e, portanto, a sua capacidade de sentir prazer ou dor está bem desenvolvida. Por essa razão, qualquer ferimento causado no corpo físico é sentido perfeita e agudamente pelo animal, embora ele possa não ser capaz de expressar bem as suas sensações. Aqueles que infligem dor aos animais ou são causas para que dor lhes seja infligida, seja por causa da alimentação ou no campo dos esportes, deveriam atentar muito bem para este fato: o sofrimento infligido aos outros retorna, inevitavelmente, ao seu causador, cedo ou tarde, e a toda abarcante Lei do Carma não cessa de funcionar no caso daqueles que são ignorantes, ou tentam encontrar desculpas plausíveis para as suas ações maléficas.

“Se as pessoas apenas soubessem que terríveis sofrimentos estão gerando para elas mesmas por meio de sua rudeza e crueldade para com os animais, elas ficariam menos inclinadas a evitar esses assuntos desagradáveis com um mero balançar dos ombros, e a continuar em suas trajetórias maléficas de uma maneira completamente irresponsável.” (Extraído do livro: “Auto Cultura à Luz do Ocultismo”, de I. K. Taimni)

6- Como Ser um Bom Vegetariano?

Ser um bom vegetariano não é, simplesmente, suprimir o uso da carne. É absolutamente necessário ter-se conhecimentos gerais acerca da Ciência da Nutrição, a qual, embora esteja em amplo desenvolvimento, já nos fornece um conjunto de conhecimentos fundamentais.

Cumpre também dizer que, embora a alimentação seja um importante fator para manter a saúde, ela não é o bastante por si só. Se uma pessoa é vegetariana, mas não toma sol, passa a vida sentada ou em ambientes confinados, se não mastiga direito, abusa de doces, de alimentos fritos ou gordurosos ou se, além disso, fuma ou usa bebidas alcoólicas (o que é raro entre os vegetarianos), ou entrega-se a trabalhos excessivos e passa noites mal dormidas, evidentemente, seu vegetarianismo não valerá de muito. O fator moral e o equilíbrio sexual e emocional também desempenham papel importantíssimo na saúde física e mental do indivíduo.

7- O Que É Necessário Saber, Essencialmente, Sobre a Ciência da Nutrição para Equilibrar Adequadamente a Alimentação?

É importante sabermos que os nutrientes são divididos genericamente em:

— Carboidratos;
— Gorduras;
— Minerais;
— Proteínas;
— Vitaminas.

Assim, os alimentos, sejam naturais ou elaborados artificialmente, contém diferentes componentes químicos, os quais desempenham funções também diferenciadas dentro do sistema que é nosso organismo. Podemos, desse ponto de vista, recolocá-los em três grupos:

1- Os que produzem energia, que são os carboidratos (açúcares e amidos) e as gorduras. Esses são oxidados no processo total da nutrição e, por exemplo, fornecem calor ao nosso corpo.

2- Os que servem para regular os processos do organismo, que são as vitaminas e os minerais. Esses são catalisadores ou estimuladores que desencadeiam e regulam, entre outras coisas, a própria assimilação dos outros nutrientes. De certo modo, o primeiro grupo pode ser comparado com o combustível de um motor, enquanto o segundo com a faísca que provoca a explosão do combustível.

3- Os que constroem e reparam os tecidos, que são as proteínas (e também os minerais).

Na alimentação, seja vegetariana ou não, esses três grupos devem estar presentes e balanceados adequadamente, sob pena do organismo vir a apresentar problemas vários, de acordo com o tipo de desequilíbrio ocorrido.

Em um texto que deve ser breve seria impossível entrar nos detalhes dessas importantes questões. Um cuidado um pouco maior é dado à questão das proteínas em vista de sua importância para a alimentação vegetariana, contudo alguns tópicos gerais, que são essenciais, também devem ser mencionados.

Na alimentação de um homem comum, com um nível de renda mínimo para garantir sua manutenção física (condição que em nossa sociedade, vergonhosamente para todos nós, exclui milhões de nossos irmãos), o primeiro grupo, o dos hidratos de carbono e gorduras, não apresenta problemas quanto à quantidade ingerida (que costuma ser excessiva), mas não deixa de apresentar problemas frequentes quanto à qualidade do alimento consumido.

É fato de ampla divulgação científica que as gorduras animais contribuem para o aparecimento de diversas doenças e degenerações humanas, como a arteriosclerose. Como foi dito acima, a qualidade dos alimentos que são as fontes comuns dos hidratos de carbono também merece atenção, a principiar pelos açúcares.

O açúcar branco comum é um produto químico – a sacarose — totalmente empobrecido. O ferro, o fósforo e o cálcio, minerais importantes que ainda são encontrados no caldo de cana, melado e rapadura, foram retirados durante seu processamento industrial, ficando apenas a sacarose, alimento desvitalizado e desmineralizado, hoje reconhecido como uma das principais causas da cárie dentária.

Sabe-se que a glicose é importantíssima para o fígado, mas confunde-se o açúcar comum com a glicose que também é um açúcar. A fonte de glicose mais conveniente ao organismo são os frutos frescos e secos. Ao ter-se que adoçar algo, tanto o mel, quanto a rapadura ou o açúcar mascavo são muito mais indicados. O mel é de fácil digestão e contém grande proporção de glicose.

Passemos para os amidos. Suas fontes comuns também são de pobre qualidade. O pão e as massas normalmente são feitos com farinha branca (refinada etc.), a qual é desmineralizada e subtraída quase totalmente da forte dose de vitamina B-l que encontra-se na farinha de trigo integral.

Assim, a substituição por produtos elaborados com farinhas integrais é altamente desejável. De igual modo, o arroz, elemento básico em nossa mesa, ao ser feito branco, é destituído de todas as suas ricas vitaminas, sendo a utilização do arroz integral algo da maior importância para a saúde de nosso povo.

As vitaminas e os minerais são os outros componentes básicos de nossa nutrição. Encontram-se em abundância, sobretudo, nas frutas e vegetais, especialmente quando crus, e também, como vimos, nos cereais integrais.

A melhor maneira de manter-se bem nutrido quanto a esses componentes é uma alimentação variada, no que toca às frutas da estação e legumes. Um fato muito descuidado, digno de registro, é que as frutas sendo assimiláveis mais rapidamente pelo nosso organismo deveriam, por isso, ser ingeridas no início das refeições e não ao final como é o costume predominante.

Outro alerta muito útil, que diz respeito às vitaminas, aos minerais e também às proteínas, é que ao contrário das gorduras, dos açúcares e dos amidos (que são armazenados em nosso organismo em grande quantidade, e cujas reservas podem ir sendo utilizadas no decorrer de um longo tempo) esses primeiros não são “armazenados” e devem ser ingeridos diariamente.

Como vimos, a alimentação carnívora, em comparação com uma alimentação vegetariana, mostra-se claramente desvantajosa sob todos os aspectos até aqui analisados. Do ponto de vista ético, viu-se que a carne em nossa mesa implica crueldades aos animais, bem como crueldade ao próprio gênero humano, uma vez que a sua produção é antieconômica e a quantidade de alimento produzido em uma mesma extensão de terra utilizada é muito menor do que quando dedicado à lavoura, e que, portanto, num mundo onde a fome ainda é uma realidade para grande parte da família humana, o comer carne torna-se um hábito suntuoso, luxuoso e totalmente inaceitável sob o ângulo ético-econômico.

Desde o ponto de vista do aperfeiçoamento do corpo humano com vistas à Realização Espiritual, que é a única, real e indescritivelmente maravilhosa finalidade de nossa existência, a carne também é totalmente rejeitada, seja porque não é um alimento de propriedades intrínsecas que favoreçam a harmonia, o equilíbrio, o ritmo e a perseverança que o Espírito requer e busca, ou seja, porque a compaixão, qualidade inerente ao florescer espiritual, também a exclui. Seja por todos esses fatores, ou, simplesmente, pelo motivo mais pessoal, porém também legítimo, de ter-se uma existência mais saudável e duradoura, por todos os ângulos examinados, a carne foi, invariavelmente, repudiada como indigna ou desaconselhada como opção desvantajosa.

Ora, ao termos isso em conta, não é de surpreender que grande parte da defesa do preconceito do carnivorismo tenha se concentrado na questão que é um dos últimos redutos de seus defensores: — a questão das proteínas. A Ciência da Nutrição nos trouxe o conhecimento de que as proteínas são princípios nutricionais essenciais à alimentação, os quais servem de material para o crescimento e para a reparação das células que compõem os tecidos do organismo. Elas também podem colaborar no processo de geração de calor de forma análoga aos hidratos de carbono, ou ainda, participar na formação de enzimas e hormônios essenciais às funções vitais. Desde logo, percebe-se que elas são especialmente importantes na alimentação das crianças, sendo fato bastante divulgado que uma criança subnutrida de proteínas poderá apresentar deficiências irrecuperáveis, físicas e mentais.

Neste instante, nossa sociedade, ou melhor, nós mesmos (posto que nós a fazemos, e a sociedade é, obviamente, criada sob a responsabilidade de cada um de nós) estamos condenando à imbecilidade e à deficiência intelectiva crônica um número incrivelmente grande de nossos irmãos, porque nossos hábitos luxuosos, nosso conformismo cruel nos faz aceitar hábitos como o carnivorismo.

Isso sem falar nas injustas e incompetentes formas vigentes de organização social, contra as quais todo o combate é estéril e incoerente sem que antes haja a compreensão de que é a nossa própria ignorância, de que são os nossos próprios hábitos, nossas próprias relações com os nossos irmãos que a constroem continuamente.

A sociedade, com as instituições que a compõem, é tão somente o reflexo, o resultado no plano macro-social de nossas relações, daquilo que pensamos, falamos e fazemos. Como disse Agostinho Neto, em seu livro “Poemas de Angola”:

“A lição está lá, foi aprendida, não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.”

As proteínas são compostas por moléculas complexas “grandes” cujas fórmulas quando escritas completas são, em si mesmo, um elogio à paciência e aos critérios dos químicos e bioquímicos. Essas, por sua vez, são formadas por várias combinações de compostos químicos de moléculas menores, chamados ácidos aminados ou aminoácidos. Dezenas de aminoácidos já são conhecidos. A maioria desses forma-se no nosso próprio organismo a partir de outros componentes mais simples. Porém, cerca de uma dúzia entre eles parece não poderem ser elaborados pelo organismo. Digo — parece — pois como disse antes, nossa Ciência da Nutrição está em franca evolução, e amanhã novos descobrimentos podem modificar esse quadro. Ficando com o que hoje sabemos da ciência, examinemos esse que tem sido um dos principais pontos de defesa do preconceito do carnivorismo.

Esses aminoácidos que não podem ser formados no organismo são chamados de aminoácidos essenciais, pois devem necessariamente estar incluídos nos alimentos que utilizamos, especialmente para que o organismo jovem possa crescer. Os defensores do preconceito afirmam que a carne sendo rica em todos esses aminoácidos essenciais é a fonte ideal dos mesmos para a alimentação humana.

8- Como os Vegetarianos Respondem à Questão dos Aminoácidos Essenciais?

De maneira clara, dizendo que isso não passa de uma superstição travestida de conhecimento científico. Provam, pela própria ciência contemporânea, que isso não passa de uma superstição, mas antes disso, pela evidência ainda mais contundente de sua própria experiência, de suas próprias vidas, ou pelo fato (se isso não é obviedade, então o que seria?) de que povos inteiros, como a maioria da população da Índia ou os Hunzas, povo que vive nos Himalaias, cuja alimentação é secularmente vegetariana e predominantemente frugívora e lhes proporciona excelentes condições de saúde. O autor desse texto é vegetariano há muitos anos (mais de 45 anos), e atestou pessoalmente a existência de povos que por milênios são vegetarianos e, além disso, entre suas amizades pessoais encontram-se muitos que, gozando de saúde invejável, velhos e moços, jamais ingeriram um pedaço sequer de carne em suas vidas. Contudo para sermos bons vegetarianos, não é bastante saber-se que é possível e sob todos os aspectos desejável, sermos vegetarianos. Também é necessário examinarmos o que a Ciência da Nutrição nos diz, sobretudo, acerca das proteínas.

A carne não é o único alimento que contem proteínas de alto valor biológico (AVB), que encerram os aminoácidos essenciais fornecidos pela alimentação, e nem sequer o único alimento que contém o espectro completo de aminoácidos (todos os conhecidos) e muito menos é o alimento que contém o maior teor proteico. Além disso, as proteínas não são assimiladas pelo organismo na mesma proporção: — as da carne apenas 77%, enquanto que as do leite e do ovo são assimiláveis a 93%. Analisemos com maior detalhes estes aspectos.

Os demais alimentos que contém proteínas de alto valor biológico são: os farelos de arroz e de trigo, as nozes e castanhas, os feijões e demais leguminosas como o soja, o trigo integral, os laticínios e os ovos. Sabe-se que as oleaginosas, o germe de trigo, a semente da abóbora e outros alimentos contém aminoácidos completos. Ainda outros alimentos contém proteínas de primeira ordem, embora em composição menos completa de aminoácidos essenciais.

Esses alimentos são importantes, pois combinados de forma variada suprem nossas necessidades perfeitamente. Quanto ao teor proteico, a carne de vaca possui 18,6% de proteínas. As nozes possuem igual teor proteico, sendo que algumas amêndoas chegam até 21%. As principais leguminosas como a soja 38%, o amendoim 26%, lentilha 26%, ervilha 23%, feijão 24%. O ovo 12,8%, o leite 3,5%, o queijo tipo Minas 21,8%, o arroz integral 8,24%, o milho verde 6,2%. Como vemos muitos desses alimentos possuem maior teor proteico que a carne.

9- O Que É, em Resumo, Importante Quanto às Proteínas?

Em resumo, para sermos bons vegetarianos, no que diz respeito às proteínas, precisamos saber quais os alimentos de alto teor proteico — as leguminosas, em especial a soja, mas também amendoim, lentilha, ervilha e os feijões; as nozes e castanhas; os cereais integrais, trigo, aveia e arroz em especial, e ainda alguns outros como o espinafre. Também os ovos e os laticínios. Em segundo lugar, saber que uma combinação e a variação desses alimentos em nossa mesa é sempre preferível a tomarmos sempre apenas um ou dois dos mesmos.

Resta-nos ainda saber que quantidade de proteínas necessitamos ingerir diariamente. Isso é questão ainda discutida, cito apenas o que a Ciência da Nutrição toma, em geral, como dado aceito. O autor, inclusive, está inclinado a crer, por sua experiência pessoal, que esta quantidade estaria exagerada mas, enfim, como já disse, ficaremos com a informação científica vigente. Usualmente, diz-se que um homem de 70 kg precisa, diariamente, de 70 gramas de proteínas, ou seja, cerca de 1 grama de proteína por kg, por dia. A mesma proporção vale para a mulher. Para as crianças e jovens ainda em fase de crescimento essa quantidade deve ser aumentada, bem como para a mulher durante a gravidez, nesse caso, contudo, o acompanhamento médico deveria ser a regra.

Tendo em vista a desinformação e os hábitos alimentares de nossa cultura, não recomendaria que uma pessoa carnívora adotasse um regime que excluísse inicialmente o leite e seus derivados, bem como os ovos. Excluo apenas as pessoas que conheçam muito a respeito da nutrição e que tenham paciência de, gradualmente, partirem para essa mudança em sua alimentação.

Desejo concluir essa questão das proteínas com uma advertência e com uma citação do excelente livro do Dr. Antônio A. de Miranda (vide Bibliografia):

“Há duas modalidades de regime vegetariano: o vegetarismo puro, que exclui todo e qualquer alimento de origem animal, e o regime ovo-lacto-vegetariano, que aos alimentos vegetais junta o leite e seus derivados e ainda o ovo. Esse é o mais consentâneo e aconselhável entre nós, principalmente para as pessoas que estão no início de um processo de mudança de hábitos.

“O regime ovo-lacto-vegetariano é o mais cômodo, uma vez que o leite, ovos, nozes, amendoim, cereais integrais, feijão, soja e demais leguminosas fornecem em profusão, as proteínas de primeira classe. O leite e os ovos possibilitam todo o cálcio de que necessita o organismo. Dos outros princípios alimentares, justamente as verduras, frutas, hortaliças, cereais etc., são as melhores fontes. O regime ovo-lacto-vegetariano tem a seu favor as maiores autoridades em assuntos de nutrição. Ouçamos o que diz o Dr. H. C. Sherman:

“Já ficou provado que uma mistura de proteínas originais de certos alimentos tem maior eficiência que as de alguns outros alimentos isolados, porque contém os aminoácidos em proporção que se avizinham mais das necessidades do organismo humano. As proteínas naturais do leite, por exemplo, são mais eficientes que as dos cereais. Quando o leite e os cereais são ingeridos em proporções favoráveis, suas proteínas suplementam-se umas às outras para fornecer os aminoácidos, de tal sorte que essas combinações resultam quase tão eficazes como as do leite sozinhas.

“Como exemplo de combinação de alimentos, econômica e aconselhável pelo valor como fonte de proteína de alta qualidade, é a que se forma com leite e aveia laminada. A aveia contém uns 14% de proteínas de boa qualidade, associada ao leite, suas proteínas se completam, constituindo uma combinação de aminoácidos que vão fornecer ao organismo todas as cotas desses princípios essenciais necessários à manutenção da boa saúde.”

10- Que Outros Pontos Importantes Poderiam Ser Também Considerados? Seria Possível Colocar em Alguns Tópicos Toda a Questão da Alimentação?

— Coma calmamente, em ambiente tão tranquilo e aprazível quanto possível. Se estiver muito apressado, ansioso ou nervoso é melhor não fazer a refeição, ou comer o mínimo.

— Mastigue muito os alimentos. Na saliva estão contidas enzimas (Ptialina) que são essenciais ao processo digestivo. Não beba ou beba o mínimo durante as refeições.

— Evite comidas a bebidas muito quentes ou geladas, elas também perturbam a digestão.

— Procure, com bom senso e gradualmente, aplicar as seguintes regras genéricas: — o melhor é utilizar-se de fontes vegetais e não animais, e de alimentos crus, naturais e integrais e não e não de alimentos cozidos, elaborados e refinados.

— Procure aumentar seus conhecimentos científicos a respeito da nutrição, é melhor um conhecimento científico deficiente que nenhum.

— Além do carnivorismo, nosso principal preconceito alimentar é julgar que nossa vitalidade advém exclusivamente da alimentação, quando ela provém, sobretudo, de uma energia vital, cientificamente ainda pouco conhecida, porém não dos verdadeiros sábios de todos os tempos, cuja assimilação está na dependência de nossos períodos de sono, descontração ou relaxamento profundo.

— Procure andar calmamente após as refeições, sempre que possível.

— Busque estar ao ar livre, bem como banhar-se ao sol, ainda que poucos minutos, de preferência na primeira parte da manhã, ou à tarde com sol já não muito forte.

— Ao mudar qualquer hábito alimentar, especialmente ao tornar-se vegetariano, faça-o progressivamente, mesmo que seja apenas a mudança para o pão integral, ou coisas simples assim, inicie com pequenas quantidades e aumente segundo sua tolerância.

— Principais vícios do vegetarianismo ignorante: — excesso de comidas fritas e gordurosas, e excesso de massas, de farinhas e de doces.

— Três alimentos a serem evitados, se possível, totalmente: álcool, carne e açúcar branco.

11- O Que Disseram Grandes Homens (*)

“Quanto mais o homem simplifica a sua alimentação e se afasta do regime carnívoro, mais sabia é a sua mente.” (George Bernard Shaw)

“Sou um fervoroso seguidor do regime vegetariano. Mais que nada por razões morais e estéticas. Creio que uma ordem de vida vegetariana, por seus efeitos físicos, influenciará sobre o temperamento dos homens de uma maneira tal, que melhorará em muito o destino da humanidade.” (Albert Einstein)

“Tempo virá em que os seres humanos se contentarão com uma alimentação vegetariana e julgarão a matança de um animal inocente como hoje se julga o assassinato de um homem.” (Leonardo Da Vinci)

“Se o homem aspira sinceramente a viver uma vida real, sua primeira decisão deve ser abster-se de comer carnes e não matar nenhum animal para comer.” (Leon Tolstoi)

“A carne é o alimento de certos animais. Todavia, nem todos, pois os cavalos, os bois e os elefantes se alimentam de ervas. Só os que têm índole bravia e feroz, os tigres e os leões etc. podem saciar-se em sangue. Que horror é engordar um corpo com outro corpo, viver da morte dos seres vivos.” (Pitágoras)

“Pudésseis viver do perfume da terra e, como uma planta, nutrir-vos de luz.” (Gibran Khalil Gibran)

“Feliz seria a terra se todos os seres estivessem unidos pelos laços da benevolência e só se alimentassem de alimentos sem derrame de sangue. Os dourados grãos, os reluzentes frutos e as saborosas ervas, que nascem para todos, bastariam para alimentar e dar fartura ao mundo.” (Gautama Buda)

“Se quisermos nos libertar do sofrimento, não devemos viver do sofrimento e do assassinato infligidos a outros animais.” (Paul Carton)

“Quando um homem mata um tigre chamam a isso esporte; quando um tigre mata um homem, chamam a isso ferocidade.” (George Bernard Shaw)

“O homem implora a misericórdia de Deus, mas não tem piedade dos animais, para os quais ele é um deus. Os animais que sacrificais já vos deram do doce tributo de seu leite, a maciez de sua lã, e depositaram confiança nas mãos criminosas que os degolam. Ninguém purifica seu espírito com sangue. Na inocente cabeça do animal, não é possível colocar o peso de um fio de cabelo das maldades e erros pelos quais cada um terá de responder.” (Gautama Buda)

“O comer carne é a sobrevivência da maior brutalidade; a mudança para o vegetarianismo é a primeira mudança natural da iluminação.” (Leon Tolstoi)

“Que luta pela existência, ou que terrível loucura vos levou a sujar vossas mãos com sangue — vós, repito, que sois nutridos por todas as benesses e confortos da vida? Por que vós ultrajais a face da boa terra, como se ela não fosse capaz de vos nutrir e satisfazer?” (Plutarco)

“Cada açougueiro, com suas vitimas sangrentas do matadouro é, para mim, ao mesmo tempo, um horror e um motivo de condenação. Eu estou convencido que com a cessação desse canibalismo a humanidade alcançaria uma cultura mais nobre, resolveria muitos dos problemas sociais com maior segurança e mais facilmente, e também com certeza se livraria da praga da guerra.” (J. V. Widman)

(*) Nota: Essa coletânea de citações foi retirada da obra “Doente Ajuda teu Médico”, do Dr. Alberto Lyra. Vide abaixo na Bibliografia.

12- Bibliografia

BESANT, Annie. O Vegetarianismo à Luz da Teosofia. São Paulo, Soc, Teosófica no Brasil.

DUFTY, William. Sugar Blues. Rio de Janeiro, Ground.

HODSON, Geoffrey. The Case for Vegetarianism; Vegetarian Foods – Their Nutrient Properties; Health and Spiritual Life. Auckland, The New Zealand Vegetarian Society.

LYRA, Alberto. Doente: Ajuda teu Médico. Rio de Janeiro, Record, 1972. 156 pp.

MIRANDA, Antonio A. de. Nutrição e Vigor. São Paulo, Casa Publicadora Brasileira.

NETO, Agostinho. Poemas de Angola.

NULL, Gary e Steve. Proteinas para Vegetarianos. Buenos Aires, Ediciones Lidium.

SING, Chiang. Yoga da Alimentação. Rio de Janeiro, Livraria Freitas Bastos, 1974.

TAIMNI, I. K. Auto Cultura à Luz do Ocultismo. Rio de Janeiro, Grupo Annie Besant, 1980.

TEEGUARDEN, Iona. Liberte-se Através da Alimentação – Introdução à Cozinha Natural. Rio de Janeiro, Ground, 1977.